Bloomberg — O CEO da Klarna, Sebastian Siemiatkowski, não vendeu nenhuma ação no IPO bilionário da companhia nesta semana — mas ainda assim conseguiu usar a abertura de capital para consolidar sua posição na fintech.
Antes da oferta, o fundador de 43 anos deu como garantia ações da Klarna para assegurar um empréstimo de US$ 112 milhões, segundo uma pessoa a par do assunto que falou com a Bloomberg.
O financiamento foi concedido no mês passado pelo banco sueco SEB. Siemiatkowski ofereceu em torno de US$ 980 milhões em ações como garantia, de acordo com o registro do IPO e documentos regulatórios.
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Com um índice de alavancagem baixo — de 10% em relação ao valor das garantias —, ele usou os recursos do empréstimo para comprar a participação de outro investidor em uma empresa de propósito específico (SPV) que detém ações da Klarna, contou a fonte, que pediu anonimato por tratar-se de informações não públicas.
Embora já controlasse a SPV, a operação permitiu que ele aumentasse ainda mais sua participação na empresa.
Essa aposta já começou a dar retorno.
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O valor da fatia de Siemiatkowski na Klarna subiu mais de US$ 65 milhões desde o início das negociações na quarta-feira (10), ampliando a margem de segurança em torno da participação oferecida como garantia, de acordo com cálculos da Bloomberg.
Ele agora possui mais de US$ 1 bilhão em ações da Klarna (KLAR) mesmo após uma queda de 6,7% nos papéis na quinta-feira (11), que devolveu parte da alta de quase 15% registrada na estreia dia anterior.
“Tenho plena confiança na empresa”, disse Siemiatkowski em entrevista à Bloomberg. “Assumi esse compromisso para o longo prazo.” Um porta-voz da Klarna preferiu não comentar sobre o empréstimo do executivo.
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Tensões internas
O tamanho da fatia de Siemiatkowski na Klarna há tempos é motivo de tensões dentro da companhia.
Às vésperas do IPO, ele entrou repetidas vezes em conflito com o co-fundador Victor Jacobsson, de quem está afastado. Ao longo de 2024, os dois discutiram sobre governança — em especial como a fintech seria listada em bolsa e qual seria, no fim das contas, o grau de controle de Siemiatkowski depois da abertura de capital.
Apenas três semanas antes do pedido de IPO, os acionistas votaram pela saída de um conselheiro, Mikael Walther, que havia contestado algumas decisões de governança. Walther representava os interesses de Jacobsson no conselho.
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A transação com o banco SEB mostra como grandes fortunas podem ser alavancadas e ilustra os privilégios que bancos oferecem a clientes ultrarricos.
Embora Siemiatkowski tenha dobrado a aposta na Klarna, o uso de ações como garantia geralmente permite a executivos diversificar patrimônio e ampliar liquidez sem vender ativos principais.
Larry Ellison, presidente do conselho da Oracle, já utilizou ações da companhia para financiar um estilo de vida luxuoso, incluindo investimentos em propriedades de alto valor, em equipes de vela e o complexo de tênis de Indian Wells, na Califórnia.
Mat Ishbia, dono do Phoenix Suns, comprometeu mais da metade das ações da UWM Holdings em 2023 para levantar recursos antes de comprar a equipe da NBA por então recorde de US$ 4 bilhões.
Para os bancos, conceder crédito com base em ações individuais ou em carteiras de papéis listados costuma ser mais rápido e simples, já que o valor das garantias pode ser verificado de imediato — ao contrário de ativos menos líquidos, como imóveis, obras de arte ou iates de luxo.
Por outro lado, há o risco de chamadas de margem (margin calls) adicionais caso o valor dos ativos caia. “Há muitos anos vendi uma parte das minhas ações da Klarna”, disse Siemiatkowski. “Então posso comprar uma boa casa com minha esposa e fazer algumas viagens agradáveis.”
Estrutura acionária
Após a oferta, a expectativa é que a Sequoia Capital detenha cerca de 22% dos direitos de voto, segundo documentos regulatórios.
O bilionário dinamarquês Anders Holch Povlsen, dono da varejista de moda Bestseller, deve ficar com aproximadamente 8,9%; o co-fundador Victor Jacobsson, com 8,8%; e Siemiatkowski, com 7,4%.
A Klarna e seus acionistas levantaram US$ 1,37 bilhão no IPO desta semana, que contou com forte demanda de investidores. Povlsen foi um dos que mais lucraram, já que seu family office obteve retorno superior a 600% sobre o investimento feito na fintech há quase dez anos.
De acordo com o Bloomberg Billionaires Index, ele tem hoje patrimônio estimado em US$ 6,7 bilhões.
Para Siemiatkowski, a abertura de capital não deve trazer grandes mudanças no dia a dia da companhia.
A Klarna já divulgava resultados trimestrais aos investidores e está sob forte escrutínio regulatório à medida que expandiu operações pelo mundo. Fundada em Estocolmo, a Klarna ganhou projeção como pioneira no modelo Buy Now, Pay Later (BNPL), que se popularizou durante o boom do comércio eletrônico nos anos de pandemia. Mais recentemente, a empresa tem investido em produtos bancários como contas de poupança, correntes e cartões de crédito.
Parceria com o Walmart
Em Nova York na terça-feira (9), Siemiatkowski parecia tranquilo diante dos eventos. Mais do que o sucesso do IPO, ele contou ter ficado mais animado com uma visita recente à cidade de Bentonville, no Arkansas, onde visitou o túmulo de Sam Walton, fundador do Walmart.
A Klarna tem buscado estreitar os laços com a varejista americana, que passou a oferecer o serviço de crédito rápido da fintech aos seus clientes. Além disso, uma empresa de tecnologia financeira apoiada pelo Walmart comprou participação na Klarna.
“Visitar o túmulo de Sam Walton e refletir sobre o fato de que um garoto da Suécia estava prestes a fechar um acordo com o maior varejista do mundo”, disse Siemiatkowski. “No aspecto emocional, tenho que admitir que isso superou o próprio IPO.”
Na manhã de quarta-feira (10), ele transmitiu ao vivo sua visita à Bolsa de Nova York usando óculos inteligentes da Meta Platforms e mostrou aos seguidores a abertura das negociações enquanto tocava o sino no pregão ao lado de executivos da empresa e de Michael Moritz, presidente do conselho da Klarna e da Sequoia.
Ele também usava um boné com a frase “The Last Blockbuster”.
A Blockbuster já foi a maior rede de locadoras de vídeo dos Estados Unidos. Com a popularização do streaming, a empresa entrou em colapso.
Hoje resta apenas uma loja, na cidade de Bend, no estado do Oregon. O boné de Siemiatkowski custa US$ 26 no site da loja, que não aceita a Klarna como forma de pagamento.
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Fonte: Info Money