O Panorama da Pesquisa Clínica no Brasil e no mundo, realizado pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) em parceria com a IQVIA, indica que o país tem potencial para dobrar sua presença no ranking global de estudos clínicos, saltando da 20ª para a 10ª posição.
Essa expansão poderia gerar R$ 6,3 bilhões por ano para a economia, criar 56 mil empregos qualificados e beneficiar diretamente 286 mil pacientes anualmente, segundo o levantamento.
O documento aponta que o avanço depende da regulamentação da Lei nº 14.874/2024, que moderniza o marco regulatório da pesquisa clínica no Brasil. Com a nova legislação, o país poderia aumentar de 254 para 635 o número de estudos iniciados por ano, elevando seu protagonismo internacional e atraindo um investimento direto adicional de R$ 2,1 bilhões anuais.
“Estamos diante de uma oportunidade histórica. A pesquisa clínica é fundamental para a inovação e uma das ferramentas mais estratégicas de saúde pública, desenvolvimento científico e geração de valor econômico. O Brasil já tem potencial para ser líder global. Agora, finalmente temos também um arcabouço regulatório moderno, alinhado às práticas internacionais, para que ele chegue lá”, afirma Renato Porto, presidente-executivo da Interfarma.
Entre 2014 e 2023, áreas como oncologia, neurologia, doenças infecciosas e condições cardiometabólicas lideraram os lançamentos globais de novas terapias, sendo que os tratamentos oncológicos representaram um terço dessas inovações. Apesar disso, o Brasil respondeu por apenas 2% dos estudos clínicos iniciados mundialmente nesse período. Em 2024, sinais de mudança começaram a aparecer, com maior aporte financeiro direcionado à área no país.
Investimento e protagonismo internacional
Em 2024, 78,7% dos estudos conduzidos no Brasil foram patrocinados pela indústria farmacêutica, refletindo o peso do setor privado no fomento à inovação científica. O levantamento ainda revela que os investimentos globais em pesquisa clínica somaram cerca de US$ 199 bilhões no ano passado — dos quais R$ 2,1 bilhões poderiam ser captados pelo Brasil, caso o país avance rumo a uma posição de destaque.
No cenário internacional, países como Turquia, Egito, China, Polônia, França, Espanha, Austrália, Índia e Argentina registraram avanços expressivos no ranking global, enquanto Japão, Holanda, Bélgica, Hungria e México tiveram quedas. “A cada estudo iniciado, mais pacientes têm acesso a tratamentos de ponta e mais conhecimento é gerado localmente. É um ciclo virtuoso que o país precisa incentivar”, acrescenta Porto.
Da pesquisa à saúde da população
Além do impacto econômico, a pesquisa clínica amplia o acesso à inovação em saúde, trazendo terapias avançadas para médicos e pacientes antes mesmo de sua consolidação em outros mercados. O avanço científico fortalece o sistema de saúde, estimula a formação de profissionais especializados, gera conhecimento e apoia decisões clínicas e regulatórias mais eficazes.
Historicamente, a pesquisa clínica permitiu conquistas como o controle da pandemia de COVID-19, a transformação do diabetes em uma doença manejável, a redução da transmissão de HIV de mãe para filho e a queda significativa da mortalidade infantil. Esses resultados só foram possíveis graças à articulação entre pesquisadores, políticas públicas e indústria comprometida com inovação.
Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, o tempo médio para aprovação de estudos clínicos no Brasil ainda é um entrave, com processos ético-sanitários levando 126 dias, mais que o dobro de mercados como os Estados Unidos, onde o prazo é de cerca de 30 dias. A regulamentação da Lei nº 14.874/2024 promete reduzir significativamente esse tempo, trazendo agilidade, previsibilidade e competitividade ao país.
Com a implementação da nova legislação e ampliação da capacidade nacional, o Brasil poderá atingir o mesmo patamar da Índia, com 635 estudos por ano, R$ 2,1 bilhões em investimento direto e impacto econômico total de R$ 6,3 bilhões, envolvendo 56 mil profissionais e beneficiando 286 mil pacientes.
“Valorizar a ciência e a pesquisa clínica é investir em soluções reais para os desafios em saúde do Brasil. É garantir que o país esteja preparado não apenas para tratar, mas para transformar o cuidado com as pessoas”, conclui o presidente da Interfarma.