Bolsonaro condenado piora relação com EUA, mas não muda rating do Brasil

A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado deve aumentar a pressão sobre a já tensa relação entre os EUA e o Brasil, mas provavelmente não terá implicações negativas para as classificações de crédito soberano do Brasil.

Esta é a avaliação da agência de classificação de risco Morningstar DBRS, que atribui rating soberano BB para o Brasil, um nível abaixo do que indica grau de investimento na escala da agência, que é BBB.

“Em resposta à condenação de Bolsonaro, os EUA podem tomar medidas adicionais contra o Brasil. A tarifa sobre as exportações brasileiras para os EUA pode ser aumentada, as isenções tarifárias existentes podem ser removidas ou sanções financeiras podem ser ampliadas para outros membros do governo brasileiro”, aponta, ponderando, por outro lado, que as implicações para o crédito dessas ações provavelmente serão limitadas.

A agência ainda lembra que os EUA já tomaram uma série de medidas punitivas contra o Brasil e que a relação bilateral está atingindo seu ponto mais baixo em décadas. Nos últimos dois meses, os EUA impuseram tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras, iniciaram uma investigação sob a Seção 301 sobre práticas discriminatórias nos sistemas de pagamento eletrônico do Brasil, revogaram vistos de vários ministros do Supremo Tribunal Federal e sancionaram o ministro Alexandre de Moraes, que presidiu o julgamento de Bolsonaro, sob a Lei Magnitsky.

“A Casa Branca tem usado tarifas e outras ações punitivas em resposta a uma lista crescente de preocupações políticas, econômicas e geopolíticas. A acusação criminal contra o ex-presidente Bolsonaro, aliado político firme do presidente Trump, parece ser a principal preocupação, embora a administração Trump também tenha expressado alarme sobre decisões judiciais recentes no Brasil relacionadas à regulação das redes sociais e ao interesse do Brasil em aumentar a cooperação diplomática e econômica entre os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)”, avalia.

Por outro lado, aponta que a economia brasileira está relativamente bem posicionada para suportar a maioria das ações dos EUA por várias razões.

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Em primeiro lugar, ressalta que a exposição direta do Brasil às tarifas dos EUA é baixa. As exportações para os EUA representam menos de 2% do PIB brasileiro, e algumas das principais exportações do Brasil, como produtos petrolíferos, peças de aeronaves e suco de laranja, estão atualmente isentas de tarifas.

Segundo, o presidente Lula não respondeu com tarifas retaliatórias, evitando assim os efeitos danosos de preços mais altos para famílias e empresas brasileiras. Terceiro, a economia do Brasil entra na crise diplomática em condição relativamente boa. “A inflação está ligeiramente acima da meta, mas em desaceleração, o déficit em conta corrente é amplamente financiado por entradas líquidas de investimento estrangeiro direto, e o sistema bancário está bem capitalizado e lucrativo. Com os fundamentos relativamente sólidos do Brasil, as tarifas dos EUA provavelmente serão mais disruptivas para certos setores da economia do que a causa de uma recessão mais ampla”, complementa.

A Morning Star vê que as implicações fiscais para o Brasil também devem ser relativamente modestas. “A administração Lula ofereceu até agora apenas apoio orçamentário direcionado aos setores afetados, de modo que não esperamos uma deterioração material nas perspectivas fiscais em relação às expectativas anteriores”, aponta.

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Piorar antes de melhorar

Para a Morning Star, a probabilidade de desescalada no curto prazo parece baixa. Isso se deve em parte ao fato de que a Casa Branca vinculou o alívio das medidas punitivas a duas questões fora do controle do Executivo brasileiro – o fim da acusação criminal contra Bolsonaro e a alteração da regulação brasileira das plataformas de redes sociais.

“É mais provável que as tensões se mantenham ou se intensifiquem porque 1) tanto o presidente Trump quanto o presidente Lula veem a confrontação diplomática como uma oportunidade política, e 2) os custos econômicos até agora são modestos demais para gerar forte reação política”, avalia.

A visão da agência é que os enormes interesses econômicos e geopolíticos em ambos os países atuarão para conter uma escalada rápida ou uma deterioração mais profunda na relação EUA-Brasil ao longo do tempo.

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No entanto, o impasse ainda pode ter consequências. “A tensão diplomática pode influenciar as eleições brasileiras de 2026, especialmente se o processo de apelação estender o julgamento para o próximo ano. A eleição geral ainda está a mais de 12 meses, mas o confronto parece ter melhorado as perspectivas de reeleição do presidente Lula. No âmbito internacional, o episódio pode acelerar os esforços do Brasil para fortalecer seus laços diplomáticos e econômicos com outras partes do mundo, incluindo China e União Europeia. Em resumo, podemos esperar um aumento das fricções diplomáticas entre as duas maiores economias do Hemisfério Ocidental nos próximos anos”, conclui.

Fonte: Info Money

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