Ex-presidente Jair Bolsonaro comparece ao julgamento no Supremo Tribunal do Brasil sobre alegada tentativa de golpe perante o ministro do Supremo Tribunal Alexandre de Moraes 10/06/2025 REUTERS/Diego Herculano
O ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), no âmbito da ação penal que o acusa de tentativa de golpe de Estado e outros crimes ligados à sua conduta após a derrota nas eleições de 2022.
Durante o interrogatório, conduzido pelo ministro relator Alexandre de Moraes, Bolsonaro admitiu ter tido contato breve com a chamada “minuta do golpe”, documento encontrado na casa do ex-ministro Anderson Torres que sugeria interferência no processo eleitoral.
O ex-presidente, no entanto, negou qualquer plano concreto para reverter o resultado das urnas.
“Foi passado na tela, de forma bastante rápida ali”, afirmou Bolsonaro, acrescentando que o conteúdo “não poderia ser considerado um documento de golpe”.
“O golpe até fica fácil de começar, mas o after day é que é imprevisível e danoso para todo mundo”, declarou Bolsonaro.
Bolsonaro afirmou que mesmo que houvesse algum argumento constitucional para contestar a eleição, não havia disposição política para agir dessa forma.
“O sentimento de todo mundo é que não tínhamos mais nada o que fazer”, disse. “Se tivesse que ser feita alguma coisa, era lá atrás, via Congresso Nacional”, complementou.
Bolsonaro disse ainda que “não foi sequer cogitada a hipótese de golpe” em seu governo e que, apesar das críticas ao sistema eletrônico de votação, “em nenhum momento” desrespeitou ordens do STF.
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Entenda o caso
Bolsonaro tornou-se réu no STF em março deste ano, após a Procuradoria-Geral da República apresentar denúncia pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.
A peça central da investigação é a chamada “minuta do golpe”, um rascunho de decreto que previa a decretação de estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com a finalidade de contestar o resultado da eleição de 2022. O documento foi apreendido na residência do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
O depoimento de Bolsonaro é um dos mais aguardados da ação penal e ocorre após oitiva de outros envolvidos no suposto esquema, sendo eles:
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da ABIN e deputado federal;
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal (DF);
- Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Finalizada essa fase do processo, será aberto novo prazo para que acusação e defesas apresentem as alegações finais. Essa etapa antecede o julgamento, quando os cinco ministros da Primeira Turma — Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia — votarão pela condenação ou absolvição dos envolvidos.
A defesa de Bolsonaro tem sustentado que o ex-presidente não participou de qualquer articulação golpista, limitando-se a exercer seu direito à liberdade de expressão ao questionar o sistema eleitoral.