Apesar de ser uma novela das sete, você conseguiu tratar de temas polêmicos, como relacionamento tóxico, relações homoafetivas e machismo. Essas abordagens estavam previstas desde a sinopse original?
Você tem que entrar muito respeitosamente na casa das pessoas quando você trata de temas delicados e que não parecem palatáveis nesse país machista, que tem raízes e cotidiano racistas. Eu entro com muita licença, porque, ao contraponto de saber que o país é isso tudo, o Brasil também é acolhedor. O Brasil é um país de contrastes interessantes. Ao mesmo tempo que sei que a pauta LGBT é muito delicada na sociedade, eu sei que é um país que acolhe o amor.
Sobre relacionamentos homoafetivos, você vê que quando as construções são bem-feitas, quando o público sabe por que um personagem ama o outro, ele passa a torcer por aquela relação. Você vai ganhando espaço na sociedade quando você traz a discurso para o afeto e não para bandeira. Acho o polêmico, muitas vezes, mais fácil e barulhento. Eu prefiro a delicadeza. Não faço tanto barulho, mas quando repercute, repercute no afeto, na aceitação. Essa é minha maneira de me expressar.

Com relação ao relacionamento tóxico, eu tinha abordado isso em “Cara e Coragem”, em que Bruno Fagundes minava as parceiras psicologicamente. Na época, recebi muitas mensagens de espectadoras e até amigas se reconhecendo na situação. Em “Volta Por Cima” eu tinha um vilãozão mesmo, o Gerson (Enrique Diaz), que eu falei que a gente tinha que colocar todas as maldades nele para ao público saber que ele não tem empatia por alguém. Esse era o personagem mais possível de levar isso mais adiante e mostrar esse problema mais a fundo.
Justamente por poder ir mais fundo, a coisa do sinal que Roxelle faz para se livrar do Gerson tomou uma proporção muito grande. Não imaginava que isso seria tão falado. A princípio, o Jô (Vitor Sampaio) ia salvar a Rochelle. Mas achei que estava errada, ela ser salva por alguém. Roxelle é a expressão da liberdade e precisava sair disso sozinha. Lembrei que existia um sinal de socorro e coloquei na novela. Saiu na imprensa, foi para todas as redes, uma parte do por que fazemos novela é para dialogar com a sociedade, prestar serviços. Foi um serviço bem feito.
Fonte: UOL