Ataques de Trump contra o Irã deixam mercado de petróleo em alerta para disparada

Caças americanos atacaram os três principais locais nucleares do Irã, em uma ação que faz os operadores de petróleo se prepararem para uma disparada dos preços quando o mercado reabrir no domingo — e avaliarem se, e em que medida, Teerã tentará agora interromper o fornecimento de petróleo.

Após uma semana turbulenta, os contratos futuros de Brent já acumulam alta de 11% desde que Israel atacou o Irã, mas com movimentos bruscos de alta e baixa de um dia para o outro. A expectativa é que o rali recomece na segunda-feira, depois que a ofensiva dos EUA aumentou dramaticamente as tensões em uma região responsável por um terço da produção mundial de petróleo.

Se essa alta será sustentada ou não vai depender dos próximos passos do Irã. Até agora, não houve sinais concretos de interrupção dos fluxos de petróleo da região e, na verdade, as exportações iranianas cresceram desde o início dos ataques de Israel, em 13 de junho. Vários traders disseram que, embora esperem uma alta nos preços logo na abertura do mercado, só um impacto real na oferta manteria os preços elevados.

“Agora que os EUA fizeram seu movimento, a bola está com o Irã”, disse Harry Tchilinguirian, chefe global de pesquisa do Onyx Capital Group. “O rumo que eles escolherem para a retaliação vai determinar a direção dos preços.”

Uma das principais preocupações dos traders é o risco de interrupção no Estreito de Ormuz, ponto de passagem marítimo vital na saída do Golfo Pérsico, por onde passa cerca de um quinto do petróleo mundial, não apenas do Irã, mas também de outros importantes membros da Opep.

Em um momento da semana passada, parecia ser apenas uma questão de “quando” e não “se” os EUA interviriam. Esse cenário mudou na noite de quinta-feira, quando Trump disse que analisaria sua decisão por mais duas semanas. Mas, nas primeiras horas de domingo, horário iraniano, ele anunciou que Fordow, Natanz e Isfahan haviam sido atacados e descreveu uma “carga de BOMBAS” lançada sobre Fordow, um dos principais centros de enriquecimento de urânio.

Horas depois, em um discurso televisionado, o presidente dos EUA disse que os ataques “aniquilaram totalmente” os três alvos e ameaçou novas ações militares se Teerã não fizer as pazes com Israel.

“Muito vai depender de como o Irã reagirá nas próximas horas e dias — mas isso pode nos colocar em rota para um petróleo a US$ 100, caso o Irã responda como já ameaçou anteriormente”, disse Saul Kavonic, analista de energia da MST Marquee. “Este ataque dos EUA pode escalar o conflito, com o Irã retaliando contra interesses americanos na região, como infraestrutura petrolífera no Iraque, ou dificultando o trânsito pelo Estreito de Ormuz.”

O preço do petróleo é fundamental porque impacta os combustíveis e a inflação — algo que Trump prometeu conter durante sua campanha eleitoral. Em momentos de extrema volatilidade, choques no fornecimento de petróleo já chegaram a provocar recessões.

Desde mercados futuros de opções frenéticos até disparada nos preços de fretes e do diesel, passando por uma mudança radical na curva futura do petróleo, a expectativa é de que toda essa volatilidade se intensifique na próxima semana.

“O mercado quer certezas, e isso agora coloca os EUA de forma definitiva no teatro de operações do Oriente Médio”, disse Joe DeLaura, estrategista global de energia do Rabobank e ex-trader, acrescentando que os preços devem subir quando o mercado reabrir. “Mas acredito que isso também significa que a Marinha dos EUA terá a missão de manter o Estreito aberto”, afirmou, estimando que os preços podem chegar à faixa de US$ 80 a US$ 90 por barril (R$ 440 a R$ 495, considerando câmbio de R$ 5,50).

Traders saindo de posições

O mercado já estava em estado de alerta antes mesmo do anúncio de Trump.

Traders vêm liquidando posições em futuros a uma das taxas mais rápidas já registradas — um sinal tanto do estresse que a maior volatilidade vem causando nas carteiras de derivativos quanto da imprevisibilidade do caminho à frente.

Desde o fechamento de 12 de junho, véspera do ataque israelense, o número total de contratos futuros nas principais bolsas despencou o equivalente a 367 milhões de barris, ou cerca de 7%. Traders e corretores dizem que a alta volatilidade tornou muito mais difícil precificar operações na última semana.

“Traders e analistas devem interpretar as oscilações atuais dos preços do petróleo no contexto de um processo especulativo de redução de risco”, disse Ryan Fitzmaurice, estrategista sênior de commodities do Marex Group Plc. “Daqui em diante, a volatilidade do mercado e o nível de posições abertas serão os pontos-chave a acompanhar.”

O custo de fretar um navio para transportar petróleo do Oriente Médio para a China subiu quase 90% desde antes do início dos ataques de Israel. Ganhos de receita para embarcações que transportam combustíveis como gasolina e querosene também dispararam, assim como os prêmios de seguro.

O perigo para os navios na região ficou evidente quando dois petroleiros colidiram, causando uma explosão em chamas — embora, neste caso, o dono da embarcação tenha afirmado que o incidente não teve relação com o conflito.

Ainda assim, quase 1.000 navios por dia estão sofrendo interferência nos sinais de GPS, o que aumenta os riscos de segurança. Segundo o MICA Center, uma entidade francesa de ligação entre militares e o setor de transporte marítimo, a colisão dos petroleiros provavelmente foi “agravada” pela interferência nos sinais.

O risco para os fluxos de petróleo da região, somado ao forte aumento dos custos de transporte, tem impulsionado a demanda por petróleo de fora do Golfo Pérsico.

Risco de recuo

Mesmo com as tensões ainda altas, há precedentes recentes de grandes interrupções de fornecimento que foram resolvidas rapidamente, com o mercado se acalmando em seguida.

Quando, em 2019, um ataque às instalações de processamento de Abqaiq, na Arábia Saudita, cortou 7% da oferta global, levou apenas algumas semanas para que os preços futuros do petróleo voltassem a níveis mais baixos que antes do ataque, à medida que o fornecimento foi rapidamente restabelecido.

Há estoques de emergência em vários países consumidores, que podem ser utilizados se necessário, ajudando a proteger o mercado de eventuais choques.

Essa é uma das razões pelas quais, mesmo com o risco geopolítico persistente, os preços não dispararam mais antes do ataque deste domingo.

Isso agora será colocado à prova.

“Este é o grande evento”, disse John Kilduff, sócio da Again Capital. “A reação automática do mercado é de alta. O quão alta vai depender da resposta do Irã — ou da perspectiva realista de uma resposta significativa, que pode nem acontecer.”

Por Alex Longley e Yongchang Chin

Fonte: Invest News

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