Ataque atrasará programa nuclear do Irã em apenas alguns meses, diz relatório dos EUA

WASHINGTON — Um relatório preliminar e confidencial dos EUA afirma que o bombardeio americano às instalações nucleares do Irã bloqueou as entradas de dois dos complexos, mas não fez desabar seus prédios subterrâneos, segundo autoridades familiarizadas com as conclusões.

Os resultados iniciais indicam que os ataques no fim de semana atrasaram o programa nuclear iraniano em apenas alguns meses, disseram as autoridades.

Antes do ataque, agências de inteligência dos EUA haviam estimado que, se o Irã tentasse acelerar a fabricação de uma bomba, levaria cerca de três meses. Depois das bombardeios americanos e de dias de ataques da Força Aérea israelense, o relatório da Agência de Inteligência de Defesa avaliou que o programa foi atrasado em menos de seis meses.

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Ex-funcionários afirmaram que qualquer esforço apressado do Irã para obter uma bomba resultaria em um dispositivo relativamente pequeno e rudimentar. Produzir uma ogiva miniaturizada seria muito mais difícil, e não está claro quanto do trabalho de pesquisa mais avançada foi afetado.

As conclusões sugerem que a afirmação do presidente Donald Trump de que as instalações nucleares do Irã foram obliteradas foi exagerada, ao menos com base na avaliação inicial dos danos. O Congresso havia sido convocado para uma sessão de briefing sobre o ataque nesta terça-feira (24), na qual legisladores esperavam questionar as descobertas, mas o encontro foi adiado. Os senadores agora serão informados na quinta-feira (26).

O relatório também apontou que grande parte do estoque de urânio enriquecido do Irã foi movido antes dos ataques, que destruíram pouco do material nuclear. Parte dessa reserva pode ter sido transferida para locais secretos mantidos pelo Irã.

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Alguns oficiais israelenses afirmaram acreditar ainda que o Irã mantém pequenas instalações de enriquecimento clandestinas, construídas para que o governo iraniano pudesse continuar seu programa nuclear em caso de ataque às instalações maiores.

Autoridades alertaram que o relatório classificado de cinco páginas é apenas uma avaliação inicial, e novas análises virão à medida que mais informações forem coletadas e o Irã inspecionar os três locais – Fordo, Natanz e Isfahan. Um dos oficiais disse que os documentos apresentados a pessoas na administração foram “mistos”, mas que outras avaliações ainda serão feitas.

Mas o relatório da Defense Intelligence Agency indica que os locais não foram danificados tanto quanto alguns membros da administração esperavam e que o Irã mantém controle sobre quase todo o seu material nuclear. Isso significa que, caso decida fabricar uma arma nuclear, ainda poderia fazê-lo relativamente rápido.

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As autoridades ouvidas para este artigo falaram sob condição de anonimato porque as conclusões do relatório permanecem classificadas.

A Casa Branca contestou a avaliação. Karoline Leavitt, porta-voz da presidência, disse que ela estava “completamente errada”.

“O vazamento dessa suposta avaliação é uma clara tentativa de diminuir o presidente Trump e desacreditar os bravos pilotos que realizaram uma missão perfeitamente executada para obliterar o programa nuclear do Irã”, afirmou em comunicado. “Todos sabem o que acontece quando você lança 14 bombas de 30.000 libras exatamente em seus alvos: destruição total.”

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Partes do relatório de inteligência já haviam sido divulgadas pela CNN.

Os ataques danificaram gravemente o sistema elétrico em Fordo, que fica bem no interior de uma montanha para protegê-lo de ataques, disseram autoridades. Não está claro quanto tempo levará para o Irã acessar os prédios subterrâneos, reparar os sistemas elétricos e reinstalar os equipamentos que foram removidos.

Imagem de satélite mostra visão geral do complexo subterrâneo de Fordow, antes de os EUA atacarem a instalação nuclear subterrânea 20/06/2025 (Foto: Maxar Technologies/Distribuído via REUTERS)

As primeiras avaliações de danos feitas pelos israelenses também levantaram dúvidas sobre a eficácia dos ataques. Oficiais de defesa de Israel disseram ter reunido evidências de que as instalações subterrâneas em Fordo não foram destruídas.

Antes da operação, o Exército dos EUA apresentou a autoridades uma série de cenários sobre o quanto o ataque poderia atrasar o programa iraniano. As estimativas variavam de poucos meses a alguns anos.

Alguns oficiais alertaram que tais prognósticos são imprecisos e que é impossível saber com exatidão quanto tempo o Irã levaria para reconstruir, se assim desejar.

Trump declarou que os bombardeios com B-2 e os ataques com mísseis Tomahawk da Marinha “erradicaram” os três locais nucleares iranianos, afirmação que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, reforçou em uma entrevista coletiva no Pentágono no domingo.

Mas o general Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto, foi mais cauteloso ao descrever os efeitos da ação.

“Esta operação foi projetada para degradar severamente a infraestrutura de armas nucleares do Irã”, disse Caine na coletiva de domingo.

A avaliação final de danos de batalha para a operação militar contra o Irã, afirmou Caine, ainda estava por vir. Ele disse que a análise inicial mostrou que os três locais nucleares iranianos atacados “sofreram danos e destruição severos”.

Em uma audiência no Senado na segunda-feira, os democratas também foram mais cautelosos ao contestar a avaliação de Trump.

“Aguardamos ainda as avaliações finais de danos de batalha”, disse o senador Jack Reed, de Rhode Island, o democrata mais antigo do Comitê de Serviços Armados.

Oficiais militares disseram que, para causar dano mais significativo às instalações subterrâneas, seriam necessários múltiplos ataques. No entanto, Trump anunciou que interromperia as ações após aprovar a primeira onda de ataques.

Representantes da Agência de Inteligência de Defesa não responderam a pedidos de comentário.

c.2025 The New York Times Company

Fonte: Info Money

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