Prestes a completar 100 anos, a CRS Brands — fabricante da Sidra Cereser — passa por um processo de atualização para conectar-se com novos consumidores e ampliar sua presença no mercado. Fundada em 1926, em Jundiaí (SP), a companhia nasceu com raízes agrícolas, transformando uvas e maçãs em vinhos e bebidas fermentadas.
Esse espírito empreendedor levou à criação da Sidra Cereser em 1967, lançada como alternativa acessível aos espumantes importados. Em pouco tempo, a garrafa verde tornou-se símbolo de celebração e se consolidou como um dos rituais das festas de fim de ano no Brasil.
Nos anos 1950 e 1960, quando as cestas de Natal eram vendidas em carnês ao longo do ano, incluir a Sidra Cereser nesses kits ajudou a popularizar a marca, que passou a chegar a milhões de lares. Essa estratégia contribuiu para tornar o produto parte da memória afetiva dos brasileiros.
Com o passar do tempo, a empresa diversificou seu portfólio, lançando novas opções de vinhos Dom Bosco — sua marca mais antiga —, espumantes Chuva de Prata e Jorge Alberto, além de destilados como a vodka Roscoff, o gin Laboyer e o whisky Chanceler. Também foi pioneira no lançamento de versões sem álcool de sidra, há mais de 20 anos, em linha com tendências de consumo que só mais recentemente ganharam força no mercado.
Tradição e renovação
Apesar da tradição, a empresa reconhece o desafio de atualizar sua imagem. Em meio a inovações, a CRS Brands enfrenta um desafio típico de marcas tradicionais: a forte associação da Sidra Cereser apenas às festas de fim de ano e, em alguns segmentos, à ideia de bebida popular, de segunda linha.
“É algo raro no Brasil: uma companhia que chega a 100 anos com marcas tão fortes. Mas também é um desafio, porque precisamos reconectar essas marcas com novos consumidores”, afirma Luciano Andrade, gerente de marketing da CRS Brands.
O executivo admite que a imagem da companhia estava “empoeirada” e precisava ser arejada para voltar a dialogar com públicos mais jovens.
“As nossas marcas são muito fortes. Temos marcas ‘top of mind’ como a Cereser, a Chuva de Prata, a Dom Bosco, mas elas estavam um pouco empoeiradas. Eram marcas que tiveram uma relevância muito grande no passado, ainda são muito relevantes, mas, cada vez mais, se mantêm conectadas com aquele público um pouco mais antigo, mais maduro. E não estavam conseguindo se conectar com esse público mais jovem que vem chegando no mercado de consumo de bebida alcoólica hoje em dia”, diz o executivo.
Na visão de Andrade, parte do estigma se deve ao próprio posicionamento histórico da sidra no país, vista por anos como uma opção barata em comparação aos espumantes. Essa percepção acabou associando a bebida às classes mais populares, o que restringiu sua presença em ocasiões de consumo mais sofisticadas.
“Queremos ressignificar o segmento de sidra no Brasil. Não só parar com essa percepção de que é uma marca mais simples, mais popular, mais barata, mas também mostrar todo o potencial, todas as possibilidades que a sidra pode entregar, seja no consumo de uma long neck ou num drink. A gente quer mostrar que esse produto pode ser consumido de várias formas”, diz ele.
Nova versão da Sidra Cereser
Uma das principais apostas da companhia é a Sidra Cereser em garrafa long neck, pensada para disputar espaço com bebidas prontas como Smirnoff Ice, Beats e 51 Ice. “É uma garrafinha prática, que pode ser consumida em churrascos, festas ou no Carnaval. Faltava apenas a embalagem certa para o consumo individual”, afirma Andrade.
“Queremos mostrar um pouco do que existe lá fora, na Europa, que a sidra é versátil e pode ser consumida de diversas formas. A nossa Cereser é uma opção para esse consumidor que quer essa bebida de baixa graduação alcoólica, leve, refrescante, saborosa, mas que não é amarga, que é mais docinha”, completa ele.
A modernização também passa pelo design. As embalagens foram redesenhadas para transmitir mais sofisticação, rompendo com a antiga leitura popular da marca. “Queremos que o consumidor sinta orgulho de levar a Sidra Cereser para uma reunião de amigos, sem associá-la apenas ao fim do ano”, completa ele.
Além disso, a marca tem investido em comunicação digital, com receitas de drinks à base de sidra que mostram a versatilidade do produto, estratégia semelhante à que ajudou os espumantes nacionais a se reposicionar além do Réveillon e conquistar espaço em baladas, bares e encontros informais.
Inovação no portfólio
A lógica de renovação também alcança outras linhas. No campo dos vinhos, a CRS Brands aposta em projetos de maior valor agregado, como a linha “Uvas Únicas” de Dom Bosco, que destaca variedades cultivadas no Brasil pouco conhecidas do grande público, como carmen e rúbia. “Queremos trazer para os vinhos de uva nacional o mesmo movimento que aconteceu com os importados, estimulando o consumidor a experimentar e descobrir novas uvas”, afirma o executivo.
Para Andrade, a força da empresa está no equilíbrio entre tradição e inovação. “Sempre fomos éticos e corretos com fornecedores e clientes. Isso explica nossa longevidade. Mas também fomos inovadores. E nos últimos anos a gente perdeu um pouco essa veia de inovação. O que a gente está fazendo agora é tentar reacelerar essa veia para mostrar para o consumidor que, sim, ainda tem muita coisa nova que pode sair dessa companhia. Nosso objetivo não é só completar 100 anos, mas 200, 300. Temos muito ainda para entregar ao consumidor brasileiro”, reflete Andrade.
Fonte: Invest News