As polêmicas com Florinda e Quico em série sobre criador de Chaves

O lançamento de Chespirito: Sem Querer Querendo na Max reacendeu antigas polêmicas e desentendimentos nos bastidores das produções de Roberto Gómez Bolaños (1929-2014), o criador de Chaves (1973-1980) e Chapolin Colorado (1973-1979). A série biográfica, que promete explorar toda a trajetória do artista, tem gerado reação de membros originais do elenco, especialmente Florinda Meza e Carlos Villagrán, cujos personagens tiveram os nomes alterados na trama.

A cada novo episódio liberado no streaming, uma nova picuinha vem à tona. A temporada completa na Max tem oito capítulos, com lançamento semanal todas as quintas-feiras –o primeiro saiu em 5 de junho e o último ficará disponível somente em 24 de julho.

A representação de Carlos Villagrán, o Quico

Na série, o ator Carlos Villagrán, conhecido por interpretar o Quico, é retratado com o nome de Marcos Barragán, uma mudança feita a pedido do próprio artista ao produtor Roberto Gómez Fernández, filho de Chespirito.

No entanto, a representação de Barragán na série tem sido majoritariamente negativa, mostrando-o como um personagem difícil de lidar e vaidoso, sem cenas que demonstrem ternura ou empatia. Ele é caracterizado de forma caricata, frequentemente em situações que evidenciam falta de educação e arrogância.

Carlos Villagrán, 81 anos, falou com a imprensa depois do lançamento da série na Max e disse que ainda não assistiu a nenhum episódio, mas está ciente de que “muitas mentiras” serão ditas. Apesar disso, ele expressou seu desejo de sucesso para o projeto, comparando-o a outras produções biográficas.

Villagrán reforçou seu respeito por Roberto Gómez Bolaños, que já morreu e não pode se defender das representações. Ele confia no critério do público para julgar seu trabalho, que, segundo ele, “está lá”. Questionado sobre possíveis ações legais, Villagrán demonstrou não ter interesse, afirmando que prefere “ser feliz a andar no escritório de advogados”.

Ele também revelou que não recebeu convite para participar da produção e que, embora respeite a decisão, teria ouvido a proposta se o tivessem procurado. Sobre a relação com outros ex-colegas, Villagrán brincou dizendo que “não se junta mais com essa gentalha”, mas esclareceu que não há uma má relação, apenas distanciamento geográfico, com os atores vivendo em diferentes países.

A histórica briga entre Bolaños e Villagrán

A rivalidade entre os intérpretes de Chaves e Quico é uma das histórias de bastidores mais conhecidas de Chaves, culminando em conflitos pessoais e jurídicos que são recontados na série. O principal ponto de discórdia era a autoria e os direitos legais do personagem Quico.

Em uma entrevista de 1977 ao lado Bolaños, Carlos Villagrán admitiu que Quico foi uma criação de Roberto Gómez Bolaños. No entanto, ao se separar do elenco em 1978, continuou a interpretar o menino vestido de marinheiro em outros locais, sob o nome de “Kiko”. Ele defendia que o personagem lhe pertencia por ser o criador de sua interpretação e essência, incluindo detalhes como as bochechas infladas e o traje de marinheiro.

Bolaños era o criador original e detinha o registro legal do personagem. Bolaños, por sua vez, aconselhou Villagrán a não se limitar a Quico, mas a disputa se intensificou quando Villagrán se reivindicou como criador, o que Bolaños refutou, usando a analogia de Shakespeare e Hamlet.

Outro fator frequentemente apontado para a rixa é um suposto triângulo amoroso envolvendo Bolaños, Villagrán e Florinda Meza. Villagrán alegou que Meza o assediou insistentemente no início da série, chegando a pedir ajuda a Bolaños para dispensá-la. Florinda Meza se recusa a comentar o assunto, considerando que isso promove a imagem de “alguém que não vale um centavo” –se referindo ao ator que faz o Quico. O próprio Villagrán, em 2015, negou que o suposto envolvimento tenha causado seu afastamento de Bolaños, chamando-o de “coisa passageira”.

Quando deixou o universo Chespirito, Villagrán justificou a saída pelo desejo de seguir carreira solo, mas depois alegou ter sido vítima da inveja de Bolaños, que teria diminuído o espaço de Quico até retirá-lo do programa. Bolaños e outros colegas do elenco sustentam que a decisão de Villagrán foi unilateral.

Após a saída, a tentativa de Villagrán de estrelar uma nova série com Quico na Televisa foi impedida por Bolaños, que se recusou a permitir o uso do personagem sem ser creditado como criador. Villagrán processou Bolaños, mas perdeu o caso. Essa disputa levou o presidente da Televisa a banir Villagrán de diversos canais e proibi-lo de fazer shows como Quico no México e em outros países latino-americanos. A oportunidade surgiu em 1980 na Venezuela, onde ele passou a interpretar “Kiko” com uma pequena alteração na grafia.

Apesar de uma participação em uma homenagem a Bolaños na Televisa anos depois, a relação entre os dois nunca mais se restabeleceu. Em 2013, Villagrán chegou a dizer que Bolaños estava sendo castigado por Deus por sua ganância. Ele expressou arrependimento por não ter feito as pazes antes da morte de Bolaños, em 2014. A série Chespirito: Sem Querer Querendo dramatiza parte dessa complexa disputa.

Bastidores da série Chespirito: Sem Querer Querendo

(Foto: Divulgação/Max)

Bastidores da série Chespirito: Sem Querer Querendo

Florinda Meza desmente histórias da série

Florinda Meza, viúva de Roberto Gómez Bolaños, tem utilizado suas redes sociais, especialmente o Instagram, para contestar e “desmentir” semanalmente o que é exibido na série, que ela qualifica como uma “ficção” e um “melodrama” que “falseia os fatos só para vender”. Na série, a personagem que a representa tem o nome alterado para Margarita Ruiz.

Ela enfatiza que Roberto Gómez Bolaños já era um escritor de rádio, cinema e televisão muito reconhecido e valorizado antes de criar Chapolin Colorado e Chaves. Ela desmente a narrativa da série de que Bolaños teria que “pular cercas como um criminoso” ou “enfrentar executivos” para conseguir seu espaço.

Pelo contrário, ela afirma que quando ele chegou ao Canal 8, os executivos o valorizavam, queriam trabalhar com ele e lhe deram total liberdade para fazer “o que ele quisesse”, resultando na criação dos personagens famosos.

A atriz também negou que tenha havido um “piloto” gravado às escondidas ou um “executivo malvado”, referindo-se ao personagem fictício Gilberto Treviño na série, que tentasse impedir a produção. Ela insiste que Roberto era um gênio, já admirado e apreciado pelos produtores e executivos quando criou seus personagens.

Meza também defendeu a imagem da mãe de Roberto, Dona Elsa Bolaños Cacho, que na série é retratada como alguém que impedia o filho de seguir a arte e o comparava ao pai boêmio. Florinda postou em suas redes que Dona Elsa era uma mulher “muito à frente de seu tempo”, que sempre apoiou as inclinações artísticas do filho, escrevia poesia e pintava. Ela a descreveu como uma mãe “forte, firme, charmosa e muito gentil”, que incentivou Roberto a se dedicar ao que o faria feliz, não sendo controladora, mas sábia.

Para corroborar suas afirmações e convidar o público a conhecer a “verdadeira” história, Florinda Meza tem recomendado a leitura da autobiografia de Roberto Gómez Bolaños, a “Sem Querer Querendo. Memórias”, publicada em 2006.

O outro lado da polêmica

A série “Chespirito: Sem Querer Querendo” é uma produção original da Warner Bros. Discovery, criada por Roberto Gómez Fernández e produzida por Paulina Gómez Fernández, ambos filhos do primeiro casamento de Roberto Gómez Bolaños. A visão artística da série é liderada por Roberto Gómez Fernández e Rodrigo Santos.

Apesar das críticas de Florinda Meza e Carlos Villagrán, outros membros do elenco original e seus familiares têm demonstrado apoio à produção. Edgar Vivar, o Senhor Barriga, e María Antonieta de las Nieves, a Chiquinha, participam da série e, quando questionados sobre as polêmicas, tendem a fugir das polêmicas.

Esteban Valdez, filho de Ramón Valdés (o Seu Madruga), comentou que, embora alguns nomes tenham sido alterados por questões de autorização, ele acredita que 95% do público “vai sair feliz” e vai “desfrutar” da série, pois ela “vai mostrar a realidade”. María Antonieta de las Nieves, inclusive, reagiu emocionalmente ao trailer e elogiou a atriz que a interpreta (Paola Montes de Oca), destacando a semelhança da voz.

O canal Vila do Chaves, no YouTube, publicou um vídeo interessante sobre as reações do elenco à série da Max:



Fonte: UOL

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