A polêmica amizade entre Raul Seixas e Paulo Coelho

A complexa relação e parceria entre Raul Seixas e o renomado escritor Paulo Coelho tem sido um tópico de grande interesse, especialmente com o lançamento recente da série Raul Seixas: Eu Sou no Globoplay, que aborda a trajetória do músico baiano. A série reaviva a curiosidade sobre a dupla que, no início dos anos 1970, criou canções imortais do rock brasileiro, como Gita, Medo da Chuva, Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás e Sociedade Alternativa.

Embora a parceria fosse prolífica, ela foi marcada por altos e baixos e foi encerrada ainda na década de 1970. Um dos pontos mais controversos dessa amizade foi a suspeita de que Raul Seixas teria delatado Paulo Coelho aos órgãos de repressão da Ditadura Militar (1964-1985) em 1974, resultando na prisão e tortura do escritor durante duas semanas.

Essa dúvida foi levantada por uma biografia de Raul Seixas, “Não Diga que a Canção Está Perdida”, lançada por Jotabê Medeiros. No entanto, documentos que vieram à tona em 2020 ajudam a esclarecer esse mistério, sugerindo que Raul não entregou Paulo Coelho à ditadura.

A chave para essa elucidação reside na existência de um terceiro personagem: Paulo Coelho Pinheiro. O escritor Paulo Coelho, cujo nome completo é Paulo Coelho de Souza, foi confundido com o militante Paulo Coelho Pinheiro, que pertencia ao extinto Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e estava foragido na época.

Um documento do Centro de Inteligência do Exército, datado de abril de 1974 e citado na biografia de Medeiros, indicava que a dupla Raul e Paulo estava sob o radar por músicas de protesto, como Ouro de Tolo. Nele, estava escrito que seria possível encontrar e prender “o foragido Paulo Coelho Pinheiro, do PCBR”, e Adalgisa Rios (então companheira do escritor e ex-militante do PCdoB) “por intermédio do compositor” Raul Seixas.

Um mês depois, Raul e o escritor Paulo Coelho foram depor no Dops (Departamento de Ordem Política e Socia). Raul foi liberado, mas Paulo Coelho foi levado ao temido Doi-Codi, onde foi torturado e preso.

A descoberta de que Paulo Coelho Pinheiro realmente existia e era o militante foragido, confirmada inclusive por seu filho Diogo e por um ex-companheiro militante, Jean Marc van der Weid, corrobora a tese de que houve uma confusão de identidades.

Uma ficha policial de Paulo Coelho Pinheiro de dezembro de 1973, anterior ao depoimento de Raul, já misturava a identidade do militante com a do parceiro de Raul, afirmando que ele havia escrito um panfleto subversivo com Raul. Fernando Morais, biógrafo de Paulo Coelho, afirmou que esses novos documentos finalmente colocaram um fim a esse mistério de meio século, livrando Raul Seixas de uma “suspeita terrível”.

O reencontro antes da morte de Raul Seixas

Apesar dos desentendimentos e do fim da parceria nos anos 1970, Raul Seixas e Paulo Coelho tiveram um reencontro em 22 de abril de 1989, durante um show de Raul no Canecão, no Rio de Janeiro. Raul, que estava com sérios problemas de saúde, não sabia da surpresa preparada por Marcelo Nova, que convidou Paulo Coelho ao palco. Esse foi o último encontro entre os dois, a única vez em que estiveram juntos no palco, um momento histórico de reconciliação, meses antes da morte de Raul, em agosto de 1989.

Paulo Coelho, por sua vez, ao assistir à série Raul Seixas: Eu Sou, aprovou a adaptação audiovisual e relembrou a parceria com carinho. Ele destacou a influência de Raul em sua própria escrita, afirmando que Raul o ajudou a “simplificar a maneira de escrever, não precisa ser complicado, a simplicidade é tudo”. Entre as diversas canções que compuseram juntos, Paulo Coelho revelou que sua preferida é Gita.

Fonte: UOL

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