Boyle e Garland não têm, claro, o menor interesse em fazer um “filme de zumbis”, um espetáculo de sobrevivência em que a esperança de uma cura impele a trama. Com o protagonismo nos ombros de Spike, o filme explora uma geração que desconhece uma rotina diferente da vigilância pela sobrevivência. Quando o garoto se recusa a acompanhar o embrutecimento da realidade que o cerca, “Extermínio – A Evolução” mostra cores mais interessantes e surpreendentes.
Para Spike, o terror do continente é superado não só pela curiosidade, mas também pela necessidade. Ele acredita que um médico supostamente entrincheirado em território inexplorado (Ralph Fiennes) traga alguma esperança de cura para Isla, sua mãe enferma (Jodie Comer) que sofre de perda de memória e alterna apatia com episódios de lucidez. Essa segunda incursão, empreendida de forma clandestina por mãe e filho, revela a ternura que Boyle e Garland injeta em seus personagens, uma melancolia entre momentos de extremo perigo que não pode ser confundida com resignação: é pura determinação.
Para transformar essas ideias em filme, Danny Boyle e o fotógrafo Anthony Dod Mantle (oscarizado por “Quem Quer Ser Um Milionário?”) se muniram com iPhones 15 Pro Max, anabolizados com cases, lentes e suportes profissionais. “Extermínio: A Evolução” ganhou assim uma assinatura visual única, com os campos plácidos e a vastidão sufocante do norte da Inglaterra capturados com novo dinamismo. É um trabalho tão revolucionário quanto o uso de câmeras digitais pela dupla em “Extermínio”.
Boyle, contudo, nunca deixa a bagagem técnica tomar a frente da história que ele quer contar. Embora seja embalado como filme de terror, “Extermínio: A Evolução” vai além ao explorar as entrelinhas, os fragmentos de empatia em um cenário de desesperança, redescobrindo a humanidade em um mundo que há muito lhe virou as costas. Neste momento de incerteza, em que o noticiário replica tanto ódio e ignorância, talvez seja o filme certo na hora certa. Os zumbis infectados, dispostos a desfilar crânios recém-decapitados, são um bônus!
Fonte: UOL